vezenquando

Saturday, July 16, 2011

Trilhas Sonoras

Era mais ou menos assim que ela achava que tudo iria ser. Distraída, acompanhando algum refrão que só ela conhece. Cantaria Roxanne junto com o rádio do carro dele e ficaria com muita vergonha depois. Mas ele estaria sorrindo, tudo bem. E, com esse mesmo sorriso cúmplice, entenderia quando ela acordasse cantando Lovecats, dizendo que sonhou com o Bob Dylan. E seria sábado e eles tomariam café da manhã depois do meio-dia, em alguma padaria com mesas na calçada, sol e havaianas. E ela elevaria a voz, meio transtornada, ao dizer que as pessoas não sabem mais de onde vêm os versos last night I dreamt that somebody loved me, no hope, no harm... Porque ele seria a única pessoa para quem ela poderia desabafar coisas desse tipo sem parecer pretensiosa. E eles fariam viagens para Londres e tirariam muitas fotos na ponte que fica ali na waterloo station cantando waterloo sunset's fiiiiine... e, em Paris, ela faria shebam! pow! blop! wizz! entre as pedras das margens do Sena, segurando as mãos dele. Em São Paulo, ele diria que quando desce a Augusta entende direitinho o que o Hefner quer dizer com we love the city because it lets us down...

Mas nada disso aconteceu. Ela acabou com vários cds com o nome "músicas para esquecer". Tem Sinatra, os LA's, o Squirrel Nut Zippers, a Belle, o Sebastian e os Bangles que um dia ela cantou muito alto em uma esquina com a certeza que seriam eternos. Não foram. Nem esses nem outros. De repente, as pessoas param de se apaixonar. E ela parou de gravar fitas, cds, setlists. As músicas, todas, empoeiradas. Sem ter para quem mostrar o casaco Foxy Lady que ela comprou e receber de volta um olhar de compreensão. Nem poder dizer que tem uns dias em que está muito Jenny and the Ess-Dog e ouvir a resposta let me out of here, you got to let me out of here! Até hoje, e lá se vão anos de vazio, ela esqueceu o que são músicas divididas. Os cds e uma pilha de discos ficaram só para a lembrança. O único tempo em que o mundo vai devagar e as pessoas ainda se encantam. Às vezes, ela lembra que o amor - e as músicas - deveriam ser compartilhados. Então troca a faixa e coloca algo bem alto, cantado por alguém jovem, que nunca sentiu nada. It's so cold in Alaska...