vezenquando

Thursday, March 25, 2010

só pra dizer que...

... lembrei muito de você hoje caminhando na USP.

Pensando que, apesar de ser provavelmente a mulher mais incrível que eu conheço, você não liga de dormir no meu quarto-e-sala no meio de um bairro-ladeira, não está sempre com a roupa da última moda e compra blusas iguais de cores diferentes quando gosta muito do modelo. E continua sendo aquela menina com grampos no cabelo que saía para caminhar em Carauari, levava tombos de bicicleta indo para a associação de moradores do bairro mais longe da Amazônia e achava muito bonito trabalhar na agência junior de seiláoque na faculdade de direito porque via e ouvia gente de verdade.

Fez um mestrado, vai fazer um doutorado, tem um emprego muito bom, ganha muitos dinheiros e, mesmo assim, continua buscando (satisfação, além dos dinheiros) e não se conformando com as coisas.

Não fez um casamento dos sonhos com muitos convidados e dívidas, não encheu as paciências dos amigos sobre está-na-idade-de-ter-filhos, não chora pelos cantos porque não achou o homem da vida e continua acreditando no amor.

E aí eu olho para os lados e vejo várias meninas e meninos com roupas que não amassam, que não usam tênis encardidos, que sempre acordam com o cabelo bom, que vivem com pessoas que não arranham o coração e que são tão vazios e te juro que não entendo o mundo. Porque o mundo é deles, né?

Então penso nas minhas brigas com meus óculos grandes demais, com a mochilinha azul e amarela, com o sono eterno e com tanta gente que acha que já conseguiu tudo o que queria. Lembro dos meus silêncios durante os assuntos casamento-filhos-felicidade. E penso que as minhas roupas nunca ficam bem porque, afinal, ando muito, e de ônibus, e na faculdade e a droga do vento e do calor não ajudam a deixar meu cabelo no lugar. E fico triste porque, afinal, depois disso tudo, o conjunto fica feio - e precisando de uma reforma pessoal. Droga. Nunca vou ser aquela mulher de vestidinho com cintura marcada que encontra uma mesa vazia no café da livraria cultura.

E depois fico feliz porque eu sei que tem mais alguém no mundo que também é assim. E que é provavelmente a mulher mais incrível que eu conheço.

Ê.

Tuesday, March 23, 2010

A Alice tá na moda...

"Would you tell me, please, which way I ought to go from here?"
"That depends a good deal on where you want to get to", said the Cat.
"I don't much care where - " said Alice.
"Then it doesn't matter which way you go", said the Cat.
"- so long as I get somewhere", Alice added as an explanation.
"Oh, you're sure to do that", said the Cat, "if you only walk long enough."

(Alice's adventures in wonderland, Lewis Carroll)


Porque ultimamente eu não sei se vivo no mundo das maravilhas ou se caí no buraco das realidades. As coisas embaralhadas, meio sem sentido, com um relógio imenso aparecendo nos cantos. Sete horas mais quatro horas por dia, cinco dias por semana, oito meses, depois três anos... ? O tempo passando, passando, passando... tic tac tic tac... O caminho não deveria ser divertido? Mas com tantas encruzilhadas escuras e tristes... Onde é mesmo que vou chegar?

Wednesday, March 10, 2010

Sempre essa coisa ausente...




Veio de presente em um dia terrível a imagem da frase que só vezenquando desaparece da minha cabeça. A dona da foto e do lampejo de luz no meu dia é uma daquelas raras pessoas, cada vez mais e mais raras, que divide comigo ideias, paixões e o Caio. E eu sempre me entendo com quem gosta dessas literaturas. Alguém mais fanática que eu pelos traços que esse autor deixou pelo mundo encontrou o endereço que eu esqueci, evitei, deixei pra trás no meio de tanta felicidade que foi aquele verão francês. E colou junto da foto, o texto. A frase voltou com cor, como um abraço apertado dentro do deserto de almas, me dizendo que tudo bem, as coisas são assim mesmo. As pessoas mais vão que vêm e não há nada mais natural. Terrível, terrível.

Então, deixo aqui a crônica que anda comigo desde que eu mergulhava em páginas empoeiradas em uma biblioteca fria em Curitiba, e que me fez um dia chorar na exposição da Camille Claudel numa longínqua Paris, pensar na liberdade de laços totais quando tudo dá errado, ter fome de ver e tentar negar que sempre, sempre falta alguma coisa.

*****

Paris — Toda vez que chego a Paris tenho um ritual particular. Depois de dormir algumas horas, dou uma espanada no rodenirterceiromundista e vou até Notre-Dame. Acendo vela, rezo, fico olhando a catedral imensa no coração do Ocidente. Sempre penso em Joana d’Arc, heroína dos meus remotos 12 anos; no caminho de Santiago de Compostela, do qual Notre-Dame é o ponto de partida — e em minha mãe, professora de História que, entre tantas coisas mais, me ensinou essa paixão pelo mundo e pelo tempo.

Sempre acontecem coisas quando vou a Notre-Dame. Certa vez, encontrei um conhecido de Porto Alegre que não via há pelo menos 20 anos. Outra, chegando de uma temporada penosa numa Londres congelada e aterrorizada por bombas do IRA, na época da Guerra do Golfo, tropecei numa greve de fome de curdos no jardim em frente. Na mais bonita dessas vezes, eu estava tristíssimo. Há meses não havia sol, ninguém mandava notícias de lugar algum, o dinheiro estava no fim, pessoas que eu considerava amigas tinham sido cruéis e desonestas. Pior que tudo, rondava um sentimento de desorientação. Aquela liberdade e falta de laços tão totais que tornam-se horríveis, e você pode então ir tanto para Botucatu quanto para Java, Budapeste ou Maputo — nada interessa. Viajante sofre muito: é o preço que se paga por querer ver “como um danado”, feito Pessoa. Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio.

Enrolado num capotão da Segunda Guerra, naquela tarde em Notre-Dame rezei, acendi vela, pensei coisas do passado, da fantasia e memória, depois saí a caminhar. Parei numa vitrina cheia de obras do conde Saint-Germain, me perdi pelos bulevares da Île de la Cité. Então sentei num banco do Quai de Bourbon, de costas para o Sena, acendi um cigarro e olhei para a casa em frente, no outro lado da rua. Na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: “II y a toujours quelque chose d’absent qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta) — frase de uma carta escrita por Camilie Claudel a Rodín, em 1886. Daquela casa, dizia a placa, Camille saíra direto para o hospício, onde permaneceu até a morte. Perdida de amor, de talento e de loucura.

Fazia frio, garoava fino sobre o Sena, daquelas garoas tão finas que mal chegam a molhar um cigarro. Copiei a frase numa agenda. E seja lá o que possa significar “ficar bem” dentro desse desconforto inseparável da condição, naquele momento justo e breve — fiquei bem. Tomei um Calvados, entrei numa galeria para ver os desenhos de Egon Schiele enquanto a frase de Camille assentava aos poucos na cabeça. Que algo sempre nos falta — o que chamamos de Deus, o que chamamos de amor, saúde, dinheiro, esperança ou paz. Sentir sede, faz parte. E atormenta.

Como a vida é tecelã imprevisível, e ponto dado aqui vezenquando só vai ser arrematado lá na frente. Três anos depois fui parar em Saint-Nazaire, cidadezinha no estuário do rio Loire, fronteira sul da Bretanha. Lá, escrevi uma novela chamada Bem longe de Marienbad , homenagem mais à canção de Barbara que ao filme de Resnais. Uma tarde saí a caminhar procurando na mente uma epígrafe para o texto. Por “acaso”, fui dar na frente de um centro cultural chamado (oh!) Camille Claudel. Lembrei da agenda antiga, fui remexer papéis. E lá estava aquela frase que eu nem lembrava mais e era, sim, a epígrafe e síntese (quem sabe epitáfio, um dia) não só daquele texto, mas de todos os outros que escrevi até hoje. E do que não escrevi, mas vivi e vivo e viverei.

Pego o metrô, vou conferir. Continua lá, a placa na fachada da casa número 1 do Quai de Bourbon, no mesmo lugar. Quando um dia você vier a Paris, procure. E se não vier, para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.

Caio Fernando Abreu - O Estado de S. Paulo, 3/4/1994

Tuesday, March 02, 2010

Mas, antes...

... preciso ver isso:

- De volta Para o Futuro 2

- Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida

- Admiradora Secreta

- Quase igual aos outros

- A Garota de Rosa Choque

- Uma Linda Mulher

- Todos os dirigidos e estrelados pelo Stallone

... e escutar muita Roxette prá convalescer do fim de semana e manter a sanidade. Quero um mar de sessão da tarde antes da literatura heavy metal. E pronto.