vezenquando

Tuesday, October 14, 2008

No hay...

Foi assim, sem querer. Algo que a trouxe de volta, uma música guardada no fundo da memória, um lugar negro com pessoas rodopiando, rodopiando, rodopiando... E depois, encostada na parede, lembrou com um aperto no coração. Dos sonhos de um dia quem sabe, da vontade de ser assim, quase assim, essa liberdade infinita de fazer o que quiser. Essa vontade louca de correr atrás dos sonhos, aqueles malditos sonhos que não são impossíveis. Um suspiro, essa música na cabeça. E depois tudo virou lágrimas. No meio da noite, as imagens que se repetem enevoadas, quando menos espera, no meio do sono pesado. Ela acordou e chorou muito lembrando. Aqueles malditos sonhos que não são impossíveis.

Na lembrança, uma foto em movimento com passos indo para frente, sempre para a frente, encontrando outros passos, virando chão, céu, mar, águas violentas para afogar-despertar sentimentos. Um contínuo cada vez mais longe, quilômetros de abismos impossíveis. Passos antes de tomarem forma, gosto, cor, sangue, música. Um sentimento quente nos olhos ao rever o lugar onde os malditos sonhos pareciam possíveis, sem essa fome, sem essa falta. Vida devagar, sem lembranças, tábula rasa, começa tudo de novo, bate o branco, 1,2,3, on y va...

Impossíveis, não-possíveis, repetidos à noite quando ela não quer. Quando bateu uma porta, apertou o botão do elevador, subiu as escadas num dia de sol sem olhar para trás, nunca mais, nunca mais. Malditos sonhos para lembrar que um dia foram possíveis impossíveis verdadeiros frágeis coloridos vidro sem forma. Fios salgados escorrendo dos olhos enquanto faz uma pausa entre todas as dúvidas e indecisões do que vai ser quando crescer. Ele está lá, igual, vidro verde, brilhando no fundo, impossível, caminhando, caminhando, sempre para frente, para longe. Cada vez mais bonito, límpido, claro, buscando seus sonhos possíveis. Como é que faz mesmo? Como é que acredita? Como é o conforto de ter certezas? Em que língua? Quem segura a mão dela agora nesse mundo deserto cheio de possibilidades? Com todas essas referências insuportáveis, essa música. Malditos sonhos que não são impossíveis e aparecem assim, entre lágrimas de sem querer.